CRIANÇAS SEM COR.

Todos os educadores conhecem bem a diversidade, seja através da formação continuada ou pela própria vivência. Se por um lado houve uma abertura, criando possibilidades de reflexão sobre as diferenças, por outro, os profissionais ainda se deparam com as exclusões presentes no meio social e reproduzidas pelas crianças dentro da escola. Entretanto, há uma forma de exclusão mais profunda e oculta que atinge crianças de escolas públicas e particulares e que não é citada em nenhuma legislação.

Ao longo dos anos trabalhando com as crianças, tenho notado um aumento importante daquelas que eu chamaria de “crianças sem cor” porque é como se as olhássemos em fotos descoloridas. São as crianças desprovidas de significados e, portanto, sem o desejo de se manifestar no mundo. Muitas vezes, elas não querem ir para a escola e quando estão na escola, não realizam as lições ou as realizam sem nenhuma vontade.

O mundo mudou e hoje além da exclusão social, a expressão humana se manifesta cada vez mais através da mídia e da tecnologia, individualizando as pessoas, desfavorecendo a criatividade e o contato físico em detrimento das relações humanas do cuidar e ser cuidado e do apreciar e ser apreciado. Aquelas tradições religiosas, culturais, histórias contadas ou cantigas presentes no cotidiano da maioria das famílias, hoje se restringiram a pequenos grupos que se esforçam para manter suas tradições. Acontece que o ser humano precisa de significados, celebrando momentos e assumindo desafios para perceber sua existência como sendo importante para o mundo.

Dessa forma a função dos pais e educadores volta-se cada vez mais para dimensão do ser. Ou despertamos para a formação humana e cultivamos os significados de expressão nas nossas crianças ou estaremos contribuindo para gerar esse vazio existencial.

Pedagoga Julita Beninca - Especialista em Valores Humanos na Educação